domingo, 31 de agosto de 2008

O que reflete sobre o espelho

Já tive o olhar vendado,
separado de mim,
imiscuído era simples reverberação de outros olhos
olhar apartado, de preconceito revestido
já tive o olhar querido
desejado
e com quantos olhos me tratei
que o olhar com cuidado foi desaparecendo...
E foi aí que eu vi o espelho
espelho quadradinho, em redoma revestido de azulejos pequenos e azuis,
era ele pedindo um momento de separação
e me deixei levar
fui espelho e olhar e olhei para mim.
Defronte do espelho eu não quis saber de outros olhos
e foi então tal a surpresa e tal o reconhecimento
que em grandes águas meus olhos se banharam,
quanto tempo havia se passado...

Dos valores do cotidiano

Que próprio foi o teu arrefecimento, praticar entre os pequenos triunfos a majestade de se dizer através do silêncio.
E a tua falta disse mais do que antes.
Precisei arrancar as flores da entrada e plantar tudo novamente para não entregar logo os cantos.
E eu que me arremedara nos nós dos dias passados em brancos panos,
fui chamar quase gritando pelos muros suburbanos a leve mágoa e o breve tédio. Existe e dói intensamente pela veia fina da água correndo ladeira abaixo.
Lento, lentamente agitando as sombras eu mechi penosamente nas fotografias e talvez a memória já desgastada, em andar, flutuando, impalpável me revelou em flash espasmódico: saudade danada do teu sorriso morno.
Como quando todo o pilar em concretos, em concretudes sempre estivera lá e sempre à mostra em desvelo se danava, era a sequência dos atos e cantos, acalantos.
Tenho então um fé quase inabalável, das pequenas verdades e dos valores do cotidiano.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Respiro

Quando passam os momentos, ficam as imagens, que outrora eram presente, no reflexo do ontem, vislumbro o hoje inteiramente renovado, pontos de sol iluminando as arestas. A inspiração é uma veia larga que ora ou outra sangra pra sarar. Respiro respeitando este instante sagrado quando as coisas adormecidas estão para acontecer, a aura dessa aurora que emana entre os olhos, invisível é o que virá, este como não tem tato, nem cheiro nem calor, eu deixo para depois, prefiro gastar a hora em ações reverberadoras. Tenho de me lembrar, sempre, que a voz é um eco e que a palavra de todo, não satisfaz.
E eu tive sim, uma idéia, só que ela se desfez no ventre da insolação, porque quando a sede pelo acontecer fica desoladora o véu se abre e não tem escapatória, atados permanecemos na constante busca.

sábado, 16 de agosto de 2008

A Arte

Apostei todas as minhas fichas na arte.
E a arte me fez uma memória.
Uma palavra em desfalque:
a arte me deu motivo,
me deu falsas glórias,
me deu angústias e preocupações.
A arte me foi um filho
que foi embora de casa
e deu solidão
e foi à rua a verdade
onde ela está escondida:
a arte me deu a cura
da vontade de me matar,
me matar de trabalhar,
de estudar,
de sonhar.
A arte me deu sim,
sonhos, revelações, possibilidades.
Sem a arte eu não seria,
não estaria plena de mim,
a arte me foi justa até onde dava,
me deu a mão quando eu mais precisava,
foi à pique quando me condenei
assim como foi aquela que me construiu das cinzas.
A arte me tirou o medo de viver.
Não sei mais o que ganhei,
matéria, plástico, papel ou pano,
isso a arte não me deu.
me trouxe a saudade,
a melancolia,
a vontade de estar sempre junto.
Preenchimento do eterno vazio que nos sonda.

Pronto

Me arrumei uma grande satisfação
quando vi aquele mouco trepidar
por entre teus olhares,
falei que devia deixar todo o silêncio
mas o silêncio me inundou de formas diferentes de vida,
era aroma, era dor, era fúria,
os objetos todos não tinham sentido,
fiquei sentindo de longe tuas órbitas
demorando em meus cabelos,
priscas de luz,
o bafo de tua respiração se aproximando,
e um sussurro, arrepios...
A linguagem sem medidas,
em grande massas,
a farinha em unhas,
o forno.

Língua

Não é um rio,
não é um som,
uma horta repleta de odores,
não é o vento cortando as copas das árvores,
não é a Serra e sua neblina triste,
não é suspiro, das moças velhas,
a viúva que se perdeu nas dores,
nem mesmo o cachorro latindo pela madrugada,
nunca é um detalhe em si,
em horas difíceis cortadas pela vontade,
eu, a Terra, o Universo e a Lua,
todos permanecemos admirados com este sentimento,
talvez eu devesse tocar mais devagar
e ir até a metade da rua,
mas da rua ele me veio,
tropeçando, contando,
antigo,
do que em outros vislumbrou,
escuto o zunido de seu toque
e num estímulo vejo,
vejo nitidamente,
tudo tem agora mais que um colorido.
Eu tive meu momento de dúvida,
agora tenho litros e litros a doar.

A cor do desejo

Eu tenho um menino grande,gordo, barrigudo, ele quer soltar sua língua e ser gesto, ele quer ser notado como a verdade única, este menino não tem nome e por ele também foi devorado, eu tenho um desejo quente vertendo pelos copos noites, madrugadas, parece que o rio que passa nesta estrada trouxe ele de volta contando suas faltas, parece que o ontem veio vivo na memória, eu tenho mas eu quero, eu quero um homem de mãos musculosas, beirando em seus dedos as palavras, envelhecidas como vinhos, com azeite e suor, em massa uniforme sendo tratada, a quantas imagens nos atrevemos porque é possível se sentir só na multidão, e todo dia eu quero e eu tenho se debatem , preciso dessa sede que não acaba, vertendo vermelhos-vivos, por que esta é a cor do desejo?

Entre teus calores

Nesta tarde quente de agosto,
entre as folhas das bananeiras trepidando seus odores,
os cantos dos pássaros
de leve em soslaio,
meu corpo padece pelo teu,
nas horas ao lado,
a quentura das tuas mãos sobre as minhas,
em ondas,
produzindo duas faces rosadas da aurora:
beijo e desejo,
estou repleta em contínuo respiro,
marejada pela sensação desmedida...
Não tenho tempo para números,
quero silêncio nas vozes
que ecoam em meu corpo,
trêmulo, desnuda e pingando em suores,
Tácito, tácito é este momento
onde me tornei poesia
em que não fui apenas palavras,
dei abertura ao canto
encaixotado há anos dentro do peito,
acalanto para as dores,
amor revelado,
este é o melhor lugar do mundo,
quando encontro em teu aconchego
as verdades plenas que parecem estar atadas e,
de fato, estão apenas escondidas
e, sim, ser filho de uma terra não é nascer nela,
É possuí-la em seu desejo de ser,
Sou seu pedaço de chão arado, entre as chuvas
mato e folhagem, vejo o sol entre as nuvens
Peço ao céu o teu calor novamente
e o frio sobe a espinha
e na memória apareces
com a maior paciência a descobrir-me.
Entre teus calores me desnudo,
sou lágrima caída sem destino
viro a borboleta que foi pega sem aviso,
quero o som do rumorejar de águas
e em oceanos me encontro
trazendo e levando
percebo o desvio, a porta entreaberta,
onde abraçei as metáforas
e quis ser em código,
Tu me decifras entre teus dedos
percorrendo os sinais,
das paredes destravo
as horas em que vivi atravessada:
sou então mulher,
mulher em poesia embalsamada.

domingo, 10 de agosto de 2008

Sonhar e construir pontes...




A vida nos dá diversas oportunidades de chegar a um destino. Entre elas estão os amigos que escolhemos para carregar no peito. Com quem aprendemos, construimos significados.


Aliás, a vida pode e deve sim ser construída significativamente. Este são os das Artes Plásticas - CEFET, galera que andei muito junta durante os 4 longos anos, greves após greves, alguns ainda estão lá, outros se formaram antes de mim, todos, sem exceção foram grandes aprendizados de vida. entre eles, está o meu marido, o moreninho de óculo à la São Francisco (rs).


Esta foto foi tirada em 2005,quando realizamos juntos uma exposição na ESMEC, o Salão dos Sem cura, onde participei com dois quadros, uma performance e uma crítica (minha primeira e única até então). Cada um seguiu o seu caminho, mas é assim mesmo, temos de aproveitar o tempo que temos juntoa quem amamos.


Em 2007 conheci alguns bailarinos maravilhosos. Todos na Goretti Quintela. Alguns estavam quebrados, precisando de conserto , outros com bastante cola para regular a si e aos outros. Em fato, após as aulas da profa. Socorro, precisávamos todos de dúzias de cola e bananas para as articulações... Foi uma experiência extraórdinária que me deixou saudades.




E somos responsáveis pelos caminhos que trilhamos. Eu escolhi muitas coisas, abri mão de algumas para realizar pequenos e importantes sonhos. Os grandes sonhos, só o tempo dirá, procuro visualizar quando acordo tudo que tenho, que consegui, minha saúde, minha profissão, o lugar onde moro, meu aprendizado intelectual e espiritual e, através disso agradeço imensamente por todas as oportunidades que o Universo me deu...
Às vezes nos questionamos porque algo não dá certo. Isso tem muito a ver com o fato de que este algo que desejamos tanto não está preparado para existir e se realizar. Tudo tem seu tempo devido e está guardado para acontecer, basta saber esperar e acreditar, com muita fé de que as coisas boas deste mundo me alcançarão e à todos à minha volta.
Paciência é a verdadeira palavra que impulsina, junto de ação para consolidar as pontes que atravessamos e o que cada um deixa em nós. Criamos o que plantamos, colhemos os frutos que semeamos e cada semente é um pedaço de nós que o mundo leva como um presente.
Como folha ao vento, não devemos nos arrepender do passado nem ficar pensando no amanhã, eu visualizo o presente e percebo as luzes que permeiam as pegadas que vou deixando na areia.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

CADA PESSOA É RESPONSÁVEL PELO DESTINO QUE TEM...

e pelos caminhos que atravessa!!!

Eu agora defronte o espelho, já se passara, 5 anos desde que terminei meu primeiro livro. "O que reflete sobre o espelho", que já foi reconhecido pela Biblioteca Nacional como um gênero novo da literatura brasileira: ficção psicológica.

O escritor Estrigas assim o descreveu em seu livro Zodiacarte (2006):" Flavinha...como sempre com a qualidade da escritora que você é...cada pessoa é sua própria esfinge e seu próprio enigma a ser decifrado...Você está num momento de esfinge...sua literatura é esfinge, enigmas, cheia de segredos...é o enigma da beleza que se colhe no jogo em que as palavras se recusam a entrega do seus desejos mas oferecem a intensidade de um prazer estético que, no tempo, também, vai se transformar, com seus enigmas e sua esfinge, no desafio de sua decifração..."
Este foi um ano mágico pra mim...
Fui selecionada em salão: no 56o Salão de Abril, em Fortaleza, propus uma interação através de fotoperformance da idéia do Acordar e do tempo.
Também recebo uma segunda mençãoem livro (citação), no primeiro em gênero literário de meu querido professor Ms.Gilberto Machado, Carne reimosa (Contos), onde o mesmo me cita em seu capítulo introdutório: "Não desisti de pintar, mas no momento, penso como Flávia Pedrosa: tenho o direito de não querer pintar...vejo um quadro mergulhado em palavras e elas são mais fortes que o próprio quadro. Creio que pinto melhor escrevendo."
Quando terminei de lê-lo um sentimento só de unidade invadiu meu espírito e desde então não tenho parado de escrever. Cada dia páginas e páginas, estou esperando o momento certo e o livro certo para ir atrás e, finalmente publicar para o grande público...Não tenho pressa, nem que fique enredada nos corais, pretendo ser obstinada, corando o tempo como a Coralina, sem medo de ser feliz do meu jeito e encontrar veradades grandes no que as palavras demonstram significativamente.

Bem, atualmente moro em Palmácia. Sou de Fortaleza-CE, já morei um tempo em Sarasota - USA e Pacoti-CE, em todos estes lugares conheci pessoas que me acolheram e, de certa forma, me mostraram suas visões de mundo.

Um pouco antes...

Na Flórida, na cidade de Sarasota, minha mana que por lá estava me apresentou a uma porção de gente, lembro bem da jornalista brasileira Alcione, que publicou uma matéria sobre a participação que tive, quando o CEFET estava em greve, nos Seminários de Ilustração da Academia de Desenho da Ringling School of Art and Design.



Naquela época, pensei em ficar por lá, refleti todos os meus objetivos, vi as possibilidades que um país "de primeiro mundo" poderiam me oferecer enquanto artista.
E, rezava muito, pedia Luz à Deus sobre qual(is) caminho(s) percorrer.
Um dia, tive um sonho e nele eu estava muito, muito feliz no Brasil. Não pensei duas vezes, voltei.

Em 2006...(dois anos depois dos EUA), estava concursada como Professora do Ensino Fundamental I na Prefeitura Municipal de Pacoti - CE.
Fui para lá sozinha, minha família e meu namorado (na época) me ajudaram bastante, porém eu tive de enfrentar a mudança radical, pois nunca imaginara em minha vida em viver no interior do Ceará, quanto mais em uma Serra.
Aprendi diversas lições tanto com colegas quanto com meus alunos.

E em 2007...

O destino acabou me enviando para cá,Palmácia, que no começo, me pareceu com aquela visão estilo "Vinha dos Esquecidos": vida de parada, povo desleixado. Mas minha visão sobre este lugar foi mudando, aos poucos, com a ajuda de algumas pessoas maravilhosas e hospitaleiras e, com certeza, com uma boa dose de hospitalidade e amizade.
Me caso com o Dan (meu namorado de longa data que em todas foi meu braços direito, o apoio e o incentivo).
Começo a cursar a Pós-graduação em Ensino da Língua Portuguesa e Arte-educação-URCA com ele!
Passo no vestibular da UFC pro Curso de Letras - Português com pólo em Aracoiaba!


Em 2008...
Colo grau no Cefet em Artes Plásticas!
Passo no Vestibular da UFC de Letras - Inglês, do pólo -Maranguape!
Finalizo minha pós!
Depois de assistir ao filme O segredo, eis minha lista de agradecimentos:

- à minha querida e amada mãe, que foi a primeira a me demonstrar com o exemplo e com a coragem infinita que nós mulheres, somos feitas de força e através dela conseguimos tudo na vida;
-à Alcione, repórter linda que me apoiou na minha busca pela educação e na fé nas Artes.
- Aos mestres e amigos: Sebastião de Paula, Gilberto Machado, Herbert Rolim, Tânia Kacelink e Maximiano Arruda-grande orientador! (aprendi demais com seus exemplos e suas dicas!);
- Ao Siomaro por sempre me avisar de quando seria as bancas de defesa e dar um super suporte informativo (anjo - Secretário do CEFET-Aldeota)!;
- Ao professor Ozenir Jacaúna, grande diretor e educador, quase um pai quando estava em Pacoti;
- à "tia" Efigênia, minha mamazita de Pacoti e aos seus conselhos de sala poderosos;
- à D. Ziza, mainha de uma outra Flávia, ser especial como eu, forte e batalhadora em todas, que em Pacoti me tratou como amiga de longa data e me deu um acervo de história e palavras que me rendeu muita, muta meditação;
- Ao Dr. Desidério e sua esposa, presentes em todos os momentos, me receberam muito bem quando passei no concurso de Palmácia e me orientaram sobre a cidade e seus costumes;
- Ao Dim de Sousa, o Secretário atual de Cultura, que, desde o início, um grande amigo, deu conselhos, nos deu direcionamentos, como chefe, soube me disciplinar, mostrar oque há de melhor em mim e em meus colegas.
- À D. Maria Augusta e o pessoal da Cozinha Comunitária D. Glória, seu trabalho excepcional com a população carente e ao aprendizado que venho tendo com D. Maria, que tenho certeza, será pro resto de minha vida.
...
São tantos mas os outros me perdoem que tudo não é esquecido mas permanece gravado com seu devido cuidado em meu coração! Meu muito obrigado!