sábado, 16 de agosto de 2008

Entre teus calores

Nesta tarde quente de agosto,
entre as folhas das bananeiras trepidando seus odores,
os cantos dos pássaros
de leve em soslaio,
meu corpo padece pelo teu,
nas horas ao lado,
a quentura das tuas mãos sobre as minhas,
em ondas,
produzindo duas faces rosadas da aurora:
beijo e desejo,
estou repleta em contínuo respiro,
marejada pela sensação desmedida...
Não tenho tempo para números,
quero silêncio nas vozes
que ecoam em meu corpo,
trêmulo, desnuda e pingando em suores,
Tácito, tácito é este momento
onde me tornei poesia
em que não fui apenas palavras,
dei abertura ao canto
encaixotado há anos dentro do peito,
acalanto para as dores,
amor revelado,
este é o melhor lugar do mundo,
quando encontro em teu aconchego
as verdades plenas que parecem estar atadas e,
de fato, estão apenas escondidas
e, sim, ser filho de uma terra não é nascer nela,
É possuí-la em seu desejo de ser,
Sou seu pedaço de chão arado, entre as chuvas
mato e folhagem, vejo o sol entre as nuvens
Peço ao céu o teu calor novamente
e o frio sobe a espinha
e na memória apareces
com a maior paciência a descobrir-me.
Entre teus calores me desnudo,
sou lágrima caída sem destino
viro a borboleta que foi pega sem aviso,
quero o som do rumorejar de águas
e em oceanos me encontro
trazendo e levando
percebo o desvio, a porta entreaberta,
onde abraçei as metáforas
e quis ser em código,
Tu me decifras entre teus dedos
percorrendo os sinais,
das paredes destravo
as horas em que vivi atravessada:
sou então mulher,
mulher em poesia embalsamada.

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