segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Voz

Veja vento viaja horas
atento vai reverberando na mente
velas vozes vias
voltas rodovias
por onde vi
por onde andei
vale veracidades
virtuosas volúpias
das veias grossas
atravessada
Bate bem a porta
dorme dorme a hora
continua caminhando
deixa de dizer
dá a mão a torcer
caleja fronte doses
vela vai
vertendo contas
parte por onde
andas há desmontes
onde o arrepio se esconde
Cai bem ai,
deixo espaço aberto
pra você também sentir
Volta volátil voz.

Amadurecendo

Sai o dia, chega a noite por onde mora o assobio,
 foi que eu vi aquele alento,
como quando bate as horas, desatento,
separa em códigos
e miragens os momentos.
Eu ouvi de longe a cotovia
chamando soturna
perto do meu abrigo
onde declamo minha voz muda
encontro imagens em desvios
sou perpassada por ares sem muros.
Hoje eu vi de repente
olhar os olhos de profundo
ter de dizer o motivo
do motivo que me fez ver mundos
dor maior é a dor doida
de quem se fez em pele garrida
e ficou em redoma sentida
que quando chocou
o mundo mudou
e então teve de se fazer em sustos.
Dessa cicatriz sei que não me curo,
ficará ali
bem no pilar do muro
dizendo não esqueça nunca
Certa de que ainda haverá enganos
desenganos por se mirar
por não conhecer
se conhecerá dores e sentidos
que a vida trará
olhar bem defronte
sem medos nem desvelos
desafio maior não há.
Quero então nesse pedaço de tempo
em que a noite madruga
e o dia ainda não se gesta
que traz no entremeio a antiga palavra
amadurece
amadurecendo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Coisas do Discurso

Cá estava eu, novamente em pleno aeroporto, sentada olhando emails, quando resolvo parar  por um instante e jogar palavras cruzadas, meu passatempo antigo que voltei a ter.
Pois então, escuto uma mulher gritar.
Estava ela de vestido vermelho vivo, tecido semelhante ao linho e havaianas brancas no pés, cabelo curto, loira.
Alto berrava palavrões sobre o aeroporto, daí falava em Deus, fim do mundo, um monte de informação ao mesmo tempo.
Tal foi meu espanto, que me levantei para prestar atenção ao que ela dizia e ao seu happening/performance acidental.
 Não deu muito tempo, as guardas que ficam fiscalizando banheiros, saídas, hall de alimentação a  levaram. A mulher continuou gritando.
Lembrei-me mais uma vez de nosso querido Foucault e foucalteei e minha mente todo o discurso de saber e poder incutidos no fato.
Um surto psicótico de alguém que aparentemente estava bem,quem sabe... lembrei que a mesma mulher passou por mim na entrada, sentou próximo na cafeteria e tomou tranquilamente seu café.
Será mesmo que não foi alguma ação/intervenção artística?
Nós acostumados a estes tempos hipermodernos, que havemos de pensar quando nos deparamos com tal ação?
Qual o objetivo da mulher de vermelho?
Dama de vermelho em sua visualidade me fazendo refletir sobre os discursos que envolvem sua imagem montada e agora transfigurada em associações sobre as outras imagens de mulheres em vermelho do cinema, da tevê, da propaganda, da arte...o que compõe esta noção travestida de desejo/sexo/aparência/atenção que a imagem traduz em seus contextos?
O  que a fez tomar atitude de berrar sobre o fim do mundo, o arrependimento, será uma mensageira?
Só Deus sabe, eu fico por aqui me indagando se talvez não foi uma "visagi" como diria meu avô caso tivesse visto tal coisa.
Coisas do discurso à parte,  volto às palavrinhas cruzadas... principal verbo de ligação = SER.
Sou então palavras a serem decifradas,
entrelinhas e vozes na multidão.