terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Desenho


Foto: aula do professor de Desenho da Figura Humana - Licenciatura em Artes Visuais - Universidade do Porto, Portugal

Penso o desenho não apenas como forma, representação artística ou enquadramento do olhar.
O desenho designa.
A designação é a ação do desenho relida e configurada como premissa.
Um currículo designa a partir de uma busca a responder uma necessidade formativa.
O desígnio ocorre quando o currículo é vivenciado e relido no cotidiano.
Os desígnios do desenho no intermédium (entre-pontes e in-between) atravessam práticas artístico/educativas na minha visão como professora/artista/pesquisadora.
O desenho e seu ensino, dois parâmetros para se pensar e se criar a partir do subjetivo, da linha sobre o papel às trocas intersubjetivas, no seu desenrolar em imagens mentais.
Realizo um desenho pensando na investigação.
Realizo a investigação pensando no desenho.
E o desenho também narra as dificuldades, os encontros, as possibilidades que vou encontrando no percurso investigativo.
Investigar não só baseada nas Artes Visuais, mas por meio de, é a perspectiva autoetnográfica (auto - eu + etno - observação de aulas + currículos e gráfica - desenhos e narrativas escritas) em uma a/r/tography...
A investigação em Educação Artística é assim meio pelo qual três realidades profissionais visualizo e cujo enfoque é o desenho, pensado e refletido desde meu olhar até uma análise da formação de professores de Artes Visuais.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Por uma urgência da Arte/Educação no Vale do São Francisco



Por que começar com um título pedindo urgência para arte/educação no Vale do São Francisco?

Primeiro, arte/educação significa o ensino de Arte numa perspectiva crítica, consciente do meio ambiente, de si, das narrativas colonizadoras, contextualizador e reflexivo.
Se as escolas (públicas e particulares) não promovem a arte/educação, ou sejam, utilizam o ensino de Arte como objeto para representação de datas comemorativas,  trivialidades e frivolidades sem a responsabilidade cultural, social e histórica  que a área exige, com certeza, uma cidade como Petrolina/PE e uma região, como o Vale do São Francisco perdem significativamente.

Eis abaixo um exemplo do que menciono sobre a falta de arte/educação em Petrolina.
O "Grupo Cópia" é um grupo de intervenção urbana criado em 2013 pela professora do Colegiado de Artes Visuais da Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF, Clarissa Campello e tem como participantes alunos e professores do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da instituição, assim como artistas da região.
Este grupo, como o próprio nome diz, realiza releituras de obras já existentes, também em intervenção, procurando discutir os rumos das cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE, principalmente no que tange à relação das pessoas com os espaços e o patrimônio. Ele tem realizado intervenções em espaços públicos como um chafariz (defronte a Catedral de Petrolina) e uma praça.

 Grupo que participou da intervenção (Foto: Facebook)

A intervenção "Um lugar ao sol", realizada  na praça do Coliseu, no sábado 10 de agosto (fotos), teve uma duração mais efêmera do que a proposta indicava...
                                                                        Foto do local com a obra exposta  (Foto: Facebook)

Ela não foi destruída pelo sol, nem pela chuva, nem por um raio ou qualquer outro fenômeno meteorológico.
O seu discurso  e a sua estrutura foi desmontada, desconstruída, pelas pessoas, que roubaram, tomaram os guarda-chuvas, até os cabos de aço que os sustentavam.
Remeto a discurso desconstruído, porque os guarda-chuvas, na região do Vale do São Francisco tem uma outra função, eles guardam as pessoas do intenso sol irradiado. É comum ver, principalmente, mulheres, utilizando esse objeto no cotidiano das ruas.
Como Petrolina/PE e Juazeiro/BA tem assumido uma política de destruição das poucas árvores nas ruas, praças e ambientes públicos e comerciais, seja podando demasiadamente, ou cortando, as duas cidades, tem sofrido mais ainda com o insuportável calor.
A obra, além de guarda-chuvas de uma única cor ou tom, possuía guarda-chuvas coloridos, o que visualmente e simbolicamente poderia remeter também à sombra que uma política para o respeito e a valorização da diversidade cultural, ambiental e sexual da região poderia proporcionar, no que tange ao bem-estar, a ampliação do olhar e a uma arte/educação efetiva da população.

                         Foto do local com a obra exposta, com o que sobrou em 13 de agosto de 2013  (Foto: Facebook)

Pois bem, hoje, em pleno 13 de agosto de 2013, um dia de grande desgosto, como é conhecido na história do Brasil, temos à frente o fim da obra "um lugar ao sol", o fim físico, mas não intersubjetivo.
O desenho do trabalho desde o seu pensamento, à montagem e à interação com o público possibilitou  e possibilita diversas e múltiplas leituras e releituras, bem como nas suas designações teve sua função apresentada e ressignificada.
Eu, como professora da UNIVASF e colega de  Clarissa, sei do intenso trabalho que ao longo destes 04 anos de Licenciatura em Artes Visuais temos colaborado, e o quanto ainda precisamos indicar, principalmente aos poderes públicos sobre a criação efetiva de políticas públicas (e também particulares) para a promoção e consolidação da arte/educação na região.
Deixo meu protesto neste texto com o fim físico da obra e sugiro a sua continuidade intersubjetiva, agonística  e crítico/reflexiva:
- Aos professores que utilizem em sala de aula, numa ampla discussão este trabalho artístico/educativo (com referências e releituras sobre o título da obra, sobre filmes, músicas, vídeos,  sobre o objeto, etc).
- Que as pessoas discutam em suas casas...
- E que em todas as discussões possam permear noções sobre o patrimônio cultural, o meio ambiente e a arte, pensando em como estamos carentes dessa compreensão mais ampla, mais intercultural, mais diversa, mais dialética em nossas vidas e no Vale do São Francisco.
Enfim, deixo aqui um trecho da música "Lugar ao Sol", de Charlie Brown Jr. , para reflexão...

"Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei

Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido

Ainda vejo o mundo com os olhos de criança

Que só quer brincar e não tanta responsa

Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir

Livre pra poder sorrir, sim

Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol..."


Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos
Colegiado de Artes Visuais - UNIVASF
Doutoranda em Educação Artística - Universidade do Porto, Portugal

+ Como citar este trabalho:
VASCONCELOS, F. M. B. P. Por uma urgência da Arte/Educação no Vale do São Francisco. Narrativas de Professora/Artísta/Pesquisadora. Disponível em: <http://www.flapedrosa.blogspot.com.br/2013_08_01_archive.html>. Acesso em: dia/mê/ano.

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