Cá estava eu, novamente em pleno aeroporto, sentada olhando emails, quando resolvo parar por um instante e jogar palavras cruzadas, meu passatempo antigo que voltei a ter.
Pois então, escuto uma mulher gritar.
Estava ela de vestido vermelho vivo, tecido semelhante ao linho e havaianas brancas no pés, cabelo curto, loira.
Alto berrava palavrões sobre o aeroporto, daí falava em Deus, fim do mundo, um monte de informação ao mesmo tempo.
Tal foi meu espanto, que me levantei para prestar atenção ao que ela dizia e ao seu happening/performance acidental.
Não deu muito tempo, as guardas que ficam fiscalizando banheiros, saídas, hall de alimentação a levaram. A mulher continuou gritando.
Lembrei-me mais uma vez de nosso querido Foucault e foucalteei e minha mente todo o discurso de saber e poder incutidos no fato.
Um surto psicótico de alguém que aparentemente estava bem,quem sabe... lembrei que a mesma mulher passou por mim na entrada, sentou próximo na cafeteria e tomou tranquilamente seu café.
Será mesmo que não foi alguma ação/intervenção artística?
Nós acostumados a estes tempos hipermodernos, que havemos de pensar quando nos deparamos com tal ação?
Qual o objetivo da mulher de vermelho?
Dama de vermelho em sua visualidade me fazendo refletir sobre os discursos que envolvem sua imagem montada e agora transfigurada em associações sobre as outras imagens de mulheres em vermelho do cinema, da tevê, da propaganda, da arte...o que compõe esta noção travestida de desejo/sexo/aparência/atenção que a imagem traduz em seus contextos?
O que a fez tomar atitude de berrar sobre o fim do mundo, o arrependimento, será uma mensageira?
Só Deus sabe, eu fico por aqui me indagando se talvez não foi uma "visagi" como diria meu avô caso tivesse visto tal coisa.
Coisas do discurso à parte, volto às palavrinhas cruzadas... principal verbo de ligação = SER.
Sou então palavras a serem decifradas,
entrelinhas e vozes na multidão.
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