sábado, 18 de outubro de 2008

Palavra-porta

Não há como se esconder da necessidade.

Eu escrevia em cartas, lidas e relidas eram as respostas de quem me escutava, algumas vezes pensei que estivesse escrevendo como quem joga uma garrafa com uma mensagem ao mar.
Quem a lêsse poderia querer trocar uma idéia e mandá-la de volta, ou não. A certeza que tive foi de que o silêncio, o silêncio é incentivo para a multiplicação do gesto em voz.

E hoje, em viva-voz me veio, certeira, alvo na testa cortando, crtando, queria dizer sem aperreio.

As diversas capacidades, entremeadas estão, pela pequena brecha que a luz perpassa neste momento.
Qualquer sentença melancólica pode ser sinônimo de nostalgia e, bem, não pretendo denotar tristeza.
Cada pedaço de mim se transforma em palavra, desenvolta em caracóis que o vento
traz sem pressas.

Percebo as rochas que foram se quebrando pelo caminho, entre quedas, percalços atravessando águas, pequenos espinhos presos à pele, descamando e vertendo em vinhos, a palavra foi envolta em púrpura delicadeza dos tantos desafios.

Eu não tive medo em atravessar, em tentar coisas novas e partir, mudanças, pessoas e tarefas acumuladas, palavras atiradas ao fogo, lenha pra se acostumar aos tiros e balas. Facadas antes de chegar à sala de estar. Estar é um contínuo, ninguém é verdadeiramente, somos o que o tempo e as experiências nos tornou.
Somos o que sofremos, o que aprendemos.

Aprendi a força da palavra, com seu gesto sem desepero a contar recados infinitamente necessários, força do ego, diálogo, não sei, sei que não consigo parar.
Quantas vezes a arte não me foi questionada, quantas críticas, que país é este, quem valoriza a palavra? A palavra tem preço? Só se ela se revirasse em suas entranhas e, depois em um lenços espalmada, abracadabra!

Não, a palavra e o sentido são à vista, doados, sem grandes rascunhos ou cortes. Adquiri, com a vontade, uma força infinita, rosa almiscarada de perfume, noite em veludo luar.
A palavra é amante que em êxtase beija a tua flor e te dá um querer maior ao espírito.
A palavra é política promessa de enunciação ao processo da linguagem.
Somos palavra quando nos desnudamos à viva-voz que ecoa em todos nós: permanecemos atados pelo tempo, pelo reflexos de quem fomos e do que seremos.

-- Flávia Pedrosa-- Flávia Pedrosa

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