sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Olhares

O espelho reflete sem falar muito mais do que eu poderia supor.
Quantas pequenas delicadezas escondem o nosso cotidiano...em detalhe revejo portas e janelas, pequenas aberturas pra luz entrar devagar.
Quantas vezes nos trancamos para não sofrer e quantas vezes sofremos por não oferecer a mão...
em verdade, o silêncio atravessa os pontos que antes estavam cobertos.

Eu havia deixado na gaveta 5 anos, alguns escritos em forma de livro, um sonho que havia me cansado de lutar, publicar um livro parecia supérfluo, porém algo mudou.

Um amigo, às vezes, uma palavra, pode mudar tudo. Um incentivo, pequeno em sua extensão, mas sem limites em intenção, fez com que eu tirasse a poeria e o cheiro de guardados e relesse a história que há anos não lia.

De repente, me vi na pele do personagem, lembrei de como tudo começou e vi que valeu a pena ter escrito algo que pudesse me tirar do dia e me fazer alçar vôos para melhor compreender a minha realidade.

Outras pessoas já haviam me falado do poder deste livro, que fiz, porque algo pulsava tão forte, aos meus 20 anos, dizendo, para revelar.
E o papel impresso, antes sido mandado à Biblioteca Nacional para o registro, numa necessidade de deixar algo documentado, virou necessidade de mostrar a mais gente, mais gente do que já havia mostrado.

Antes, alguns escritores deram uma olhada nos manuscritos e, por causa deste amigo-escritor, me envolvi com ele novamente e, ele virou Projeto, projeto para ser publicado via Edital de Incentivo às Artes da Secult. Enviei o envelope hoje.

Não sei qual será o destino, se algum destes críticos literários irá se ver na pele escamosa e cheia de veias varicosas da personagem, se irá refletir também sobre a miríade que o espelho remonta.

Eu me vi novamente através dele, e sinto, no fundo da minha alma, que está na hora deste projeto tomar forma e virar realidade para mais leitores.

Não sei o que será, uma tentativa a mais, tantas que já tive, quanto gasto com correspondência, envio de manuscritos, concursos literários...
Mas todos devem começar de algum jeito, eu não escrevo para mim mesma. Eu escrevo porque quero mudar o mundo, quero tirar outras pessoas do cotidiano, trazer à elas a luz viva da entrelinha, do detalhe rasgado bem à frente, dar óculos novos para enxergarem o que Deus nos dá e que a gente não valoriza.

Não podemos deixar nossos sonhos envelhecerem com a idade.
O momento agora me conta que devo sonhar, sonhar com este Projeto tomando asas, assim como outros, que estão guardados, mais 3 livros e 1 a mais está a caminho, ele em seu título já remonta a vontade enorme, "Paciência" , a palavra mais sábia que meu velho avô pôde me ensinar.

Nem que seja como a Cora, me enredar no coral e deixar o tempo dizer, o tempo passar, auscultar, refletir, revelar.

Um grande abraço,
Torço para que "O que reflete sobre o espelho..." dê seu primeiro de muitos vôos.

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